terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Escola

Conde era rapazinho p'aí com uns 7 ò 8 anos, a minha mãe disse-me quê tinha d'ir pà escola aprende a ler e a escreveri.

-Nã quero!— Griti eu — Se me chegom a tanchar na escola fujo de casa!

Com'a minha mãe pa estas coisas era mais má c'uma dôr de barriga, dê-me um estramelo nas ventas que me fez ver as estrelas 3 dias pa lá do solposto. De manêras que na ganhi nada com a torada que fiz e acabarom por me pôri na escola da Dfesa. Lá ia ê todos dias mais os ôtos do mê tamanho a péi até à escola. E erom uns quilómetros valentis! E ódespois tinhamos que passar a ponte do Ardile adonde ficávamos banhando o maior parte das vezis. Encontê andi à escola, nã hôve nem um dia (nem um diazinho sequer), quê chigasse a horas. Todos dias levava uma carga de estoiro e nã me desmanginava. O pió de tudo era a passage da ponti: ó iamos pescar à lapa ó íamos banhari, e escola... visteza! A pressôra préguntava ondé ca gente tinha andado e a gente dezia sempri:

-Fomos ós ninhos, m'sôra!

No fim ela dava dez réguadas a cada um, e mandava-nos pó canto de castigo. Êramos sempe os mesmos: ê, o Zéi Alacrou e o Cara de Cinoira. Desde piquininos c'andámos sempe juntos!
Uma vez, esta nunca mais me esqueci), no entervalo armámos uma garreia, e condo a pressôra foi lá ròbámos o sino leváme-so ò Ardile e tanchámos com eli no fundo do Pego dos Marmelêros. Ódespois abalámos cada um pa sê chêral lá pa longi; de manêras que condo a perssôra quis meter a genti na sala teve c'andar fugindo por aquelis cabeços, chamando a genti. Eh que torada! Já nã hôve escola nesse dia qu'ela nã conseguiu apanhar nengueim. O pió foi no dia a seguiri quela dê uma sova de réguadas na gente todos, e ódespois fez preguntas. Condo chigô a minha vez, quis saber quem é que tinha sido o premêro Rei de Portugali.

-Sê lá eu! Algum pante-minêro!

-Levas dez réguadas!

-Qu'é lá saberi! Nã me doiem!

-Batê-me ca força toda e passô ò Cara de Cinoira.

-D. Dinis! — Responde eli. Mái estoiro, A seguir foi o Zéi Alacrau.

-Ê cá nã fui!

Eh! A pressôra chamô-le tudo! Dê-le uma mã cheia de réguadas co Zéi até arroto a pirum seco ódespois fez-nos um ditado. Condo o corregiu, disse quê era o que linha tido menos erros. Fiquei todo babado.

- Atã e contos tive msõra?

-14!

-Sóu?! Eh! A última vez que fizemos o ditado, tive alguns dezanovi. Tô a ficá boum!

Levi quatr'anos pa fazè a sigunda classi, e dezia sempe ó mê pai que passava, todos os anos de manêras quele julgava quê já andava na quarta.

-Atâ e este ano? Passas? — Préguntô-me eli.

-Tá um becado malote!

-Tá um becado malote? Atã mas que conversa é essa? Tarei quir a falar ca pressôra ?

Ei ceu! Esconfique até as unhas dos péis se me puserom brancas! O mê pai chigô lá à escola e préguntô que tal ia eu. A pressôra disse quê nã era munto mau, mas naqueli ano não devia passari.

-Tameim! A 4ª classi é uma migalhinha puxada!

Quarta classi? Condo ela lhe dissi quê só andava na sigunda, ele dê um pulo até às nuves. Parecia que le tinha picado um atabão! Picô o burro drêto ô Taquali com vontadis de me esfolar vivo, ma condo lá chigô, já ê tinha tugido. Ora Boum! Andi fugido alguns dois dias, ma memo assim nã me livri da sova. E foi por casa destas capeias que só acabi a 4ª classi com alguns dezassete anos.

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